O diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dartiu Xavier da Silveira concedeu nova entrevista em junho deste ano ao TERRA, e alertou sobre o uso eleitoreiro do problema em campanhas políticas. Veja a entrevista:
Terra Magazine - Por que esse tratamento teve mais sucesso do que os outros?
Dartiu Xavier da Silveira - Havia um grupo de pacientes no nosso serviço de tratamento contra o crack que não conseguia largá-lo pelas maneiras tradicionais, eles mencionaram para a equipe médica que a única maneira que eles conseguiam se manter longe do crack era quando eles usavam maconha e, normalmente, quando estamos tratando algum dependente, falamos para não usar nenhuma droga, mas como todos eles falavam a mesma coisa, que a maconha estava ajudando, resolvemos investigar esse fenômeno.
Nós os acompanhamos por um ano, fazendo o uso de maconha, tentando largar o crack. A surpresa foi que, depois de seis meses, 68% tinha largado o uso de crack através do uso da maconha, e mais surpresa ainda foi que depois eles não ficaram dependentes da maconha, eles pararam espontaneamente de usar maconha, nem trocaram uma dependência pela outra.
Essa é uma taxa alta?
Muito alta, nos tratamentos habituais é por volta de 30%.
Por que a pesquisa não continuou?
No caso os pacientes usavam maconha que eles mesmos providenciavam através do mercado negro. A continuação desses estudos pressuporia que a gente fornecesse o princípio ativo da maconha e isso implicaria uma autorização especial que não foi possível, porque existe todo um preconceito no Brasil.
Como foi a repercussão dos resultados da pesquisa?
Embora até o Ministério da Saúde tenha valorizado muito o estudo, a comunidade científica brasileira olhou com muita desconfiança, ao contrário da comunidade científica internacional, que achou o estudo uma coisa inédita e ficou muito interessada.
O número de usuários de crack vem aumentando e o tema passou a preocupar governantes e candidatos...
Não existem políticas públicas adequadas à área de drogas, existem políticas repressivas, e o modelo repressivo já se provou ineficaz, mas é o modelo vigente.
E como o senhor avalia os recentes esforços do governo federal na área e as promessas de luta contra a droga da pré-candidata Dilma Rousseff?
Existem duas propostas interessantes, o atual Ministério da Saúde trabalha numa linha interessante de redução de danos, uma novidade, o Ministério da Saúde sempre foi muito retrógrado.
Os políticos têm feito uso eleitoreiro da questão das drogas, quando chega na hora de discutir coisas muito sérias como criminalização ou medicalização o pessoal se abstém de discutir porque tem medo de perder votos.
No que consiste a política de redução de danos?
Redução de danos é uma série de estratégias relacionadas ao uso de droga, como trocar o crack por uma droga muito menos agressiva, a maconha. Outro exemplo é o alerta "Se beber, não dirija".
Como se dão os tratamentos tradicionais para dependentes do crack?
Os tratamentos tradicionais são feitos a partir de terapia e uso de alguns remédios como os antidepressivos. A maconha se provou mais efetiva que esses antidepressivos, porque ela tem um potencial terapêutico que ainda não foi investigado por conta do preconceito.
A pesquisa foi feita através da Unifesp?
Sim, eu sou pesquisador da Unifesp, e atuei como coordenador com mais dois médicos, Eliseu Labigaline e Lucio Ribeiro Rodrigues.
Terra Magazine
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