domingo, 14 de agosto de 2011

RECOMEÇAR....

Recomeçar não é fácil.
Náo é fácil para a família, não é fácil para o dependente.
Depois de uma guerra muitas vezes literalmente sangrenta, com batalhas vitoriosas e outras frustrantes, chega a hora de recomeçar.
O recomeço é apenas parte de um processo longo, cheio de medos e desafios, para o dependente e para a família.
Aqui eu falo mais da família e do usuário, pois a realidade mostra que a sociedade ainda não está preparada para enfrentar essa verdadeira epidemia.
Para a família, cada recomeço é uma esperança que nasce. Para o dependente, o recomeço é simplismente recomeçar a viver.
A família que sofre ao lado do dependente muitas vezes também recomeça a viver após conhecer bem de perto esse verdadeiro "inferno". Ao enfrentar cenas dramáticas de gritaria, desespero, dilapidação de patrimônio, agressões, noites mal dormidas, endividamento, depressão, doenças psíquicas, desemprego e todo infortúnio inimaginável, suspirar vendo seu filho retomar os estudos ou trabalho, contemplar seu esposo dormindo uma noite toda ao lado passam a ser cenas muitas vezes desejadas pelos familiares como um sonho quase impossível.
Essa vida de sofrimentos passa a ser diária e muitas vezes se perpetua por anos e anos.
Mas, para aqueles que desejam realmente VIVER, o momento do recomeço sempre chega. E esse momento as vezes chega de modo quase imperceptível para os familiares.
As vezes o recomeço simplismente chega com um claro e sonoro pedido de socorro. Outras vezes o recomeço é mais sutil e requer dos familiares uma dose a mais de FÉ.
É preciso crer que o depedente deseja mudar. E muitas vezes acreditar que o sonho tão sonhado está tão próximo de se realizar faz duvidar os mais crédulos e otimistas depois de vivenciarem essa tormenta regada a tanto desgosto e desilusão.
Esse é o verdadeiro momento em que o apoio familiar é fundamental.
A vida de um dependente químico não se resume simplismente ao uso desenfreado que fez de drogas e a todas as vidas arrasadas e perdas diversas que deixou pelo caminho. A vida de um dependente é muito mais que isso, e era algo ainda mais estranho antes disso.
A vida de um dependente se divide em três fases: antes das drogas, durante as drogas e após as drogas.
Antes das drogas muitas famílias alimentavam conjuntamente com o próprio dependente um ser que, resumidamente não era capaz de se sentir satisfeito.
Ironicamente, durante a fase de ativa de um dependente ele primeiramente se satisfaz através desse uso. Digo ironicamente pois, com tudo de bom e maravilhoso que a vida por si só pode oferecer, a droga e somente ela, em algum momento foi capaz de trazer razão e sentido à uma vida.
Na terceira fase, após o uso ativo, o dependente simplismente volta a sentir o vazio e insatisfação característicos da dependência química. E essa é a questão.
No momento em que se inicia o processo de recomeço, o dependente químico que certamente vai vivenciar esses sentimentos irracionais deverá estar preparado para descobrir os fantasmas, enigmas, maldições, genéticas e toda influência que o atirou direto ao fundo do poço.
O dependente e a família, num processo conjunto de redescobertas devem reaprender a viver. O dependente recomeça sinalizando a vontade de mudar e a família deve mudar junto.
Assim, o recomeço é parte do processo.